Você se Lembra?

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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Roberto Carlos em Santarém

(Crônica de José Wilson Malheiros)

Vou contar uma estória verídica que se passou em Santarém, na década de sessenta, quando ainda não havia televisão.

Só sabíamos dos ídolos da música popular e do cinema pelas revistas que chegavam, por sinal, quase sempre desatualizadas.

Testemunhas oculares e presenciais deste fato ainda existem aos montes por aí.

Nos anos dourados de mil novecentos e sessenta e quatro eu fazia o serviço militar no Tiro de Guerra 190, que ficava na confluência da Travessa Quinze de Novembro com a Rua Galdino Veloso.

Eram épocas saudosas de levantar às quatro da manhã para fazer ginástica, de ir ao “stand”, ali por detrás da Serra Piroca, percorrendo aproximadamente cinco ou seis quilômetros em compasso acelerado, na poeira e na areia quente, para praticar tiro ao alvo com aqueles fuzis pesados, que davam coice para trás, podendo até mesmo quebrar a clavícula, se não fossem bem aprumados na hora do disparo.

E a maneabilidade? Segundo os Sargentos era para ganharmos rusticidade. Ficávamos exaustos. Correr, agachar, rastejar, cavar trincheira, formar grupo de combate (municiadores, cabos auxiliares, atiradores etc). Depois ainda tínhamos que desmontar, limpar e montar o fuzil, quando a “mola do percursor” quase sempre apertava no dedo e nos fazia lagrimar de dor... Tudo pela pátria.

Mas, se era tempo de purgatório alguns de nós, felizardos, passávamos também horas deliciosas no paraíso.

É que alguns soldados eram escolhidos para ensinar as moças do Colégio Santa Clara a marchar para o desfile de sete de setembro.

Fui um dos escalados. Era um privilégio especialíssimo, por motivos óbvios (lá estudava a maioria das jovens mais bonitas da cidade e de toda a região).

Ao final do ensaio as freiras nos chamavam e mandavam servir docinhos, sucos de fruta e todo mundo sabe que nos conventos se cozinha muito bem.

As alunas aprendiam a marchar ao longo da Avenida Rio Branco, que passa ao lado do colégio e era caminho para o Aeroporto Velho, onde hoje é um bairro e está a Prefeitura.

Na época não havia, ainda, asfalto. Do chão levantava muita poeira vermelha que fazia espirrar e sujava a roupa.

Quatro horas da tarde de uma quinta-feira calorenta e sossegada, como eram e são, aliás, as tardes santarenas.

A marcha prosseguia na mais perfeita disciplina. Os tambores tocando, os instrutores comandando “escola, cobrir!” "Meia volta...” volver!... alto!... O olhar severo das freiras era mais temido do que a bronca dos Sargentos... Ninguém podia rir, olhar as pernas das meninas, tirar qualquer gracinha. Elas denunciavam e nós, soldados, poderíamos ir presos e, o que era pior, poderíamos ser substituídos por outro instrutor que aguardava impaciente, a oportunidade de ouro de comandar aquelas deusas de uniforme azul e branco.

Pois é, nessa tarde tranqüila as meninas marchavam e os instrutores, como sempre, babavam...

De repente, não se sabe de onde, chega a notícia de que Roberto Carlos, o rei da Jovem Guarda, estava no Aeroporto.

Um figurão desses, uma celebridade desse naipe em nossa cidade tinha o mesmo impacto da descida de um E.T. num disco voador.

O avião que o levava para Manaus resolvera permanecer algum tempo a mais em terra para resolver problemas técnicos.

Quando as meninas souberam, foi uma gritaria geral. As jovens esqueceram os tambores, a marcha, as freiras, os soldadinhos e saíram correndo, subindo a avenida empoeirada no rumo do Aeroporto, que antigamente, como já disse, ficava perto, no fim da rua, e também era conhecido como “Campo da Aviação”.

Os corações sonhadores falaram mais alto. Elas literalmente estavam “mandando tudo pro inferno” para conhecer o ídolo máximo da juventude no país que era governado pelos militares.

Confesso que na oportunidade fiquei enciumado. Eu gostava do Roberto, mas, despeitados, nós os instrutores tivemos vontade de dizer que ele era “bicha, cabeludo” e coisas do gênero. Não ia adiantar, claro.

Quando elas chegaram à pista de pouso, (quem me contou foi a ex-aluna e minha amiga Glória Almeida, hoje no Rio de Janeiro e que participou do episódio) o Rei da Juventude chegou à porta do avião, acenou com um lenço branco, sorriu e depois se recolheu.

Nesse momento mágico que durou cerca de um minuto, mas pareceu eterno, gritinhos, desmaios e coisas assim:

- Roberto, eu te amo... Vem cá... Ai, meu Deus, ele é liiiindoooo!!!...

Acho que até vi a Madre Superiora mal disfarçando a agitação e a ansiedade, na porta do colégio.

Afinal de contas, Roberto era o cantor dos sucessos que nos faziam felizes na época.

A marcha... Bem, que importância tinha, agora, diante do Calhambeque?

Algum tempo depois me contaram que a passagem do cantor por Santarém chegou até romper um noivado. Não me pergunte o nome dos noivos, que não conto, mesmo!

Ora, quem mandou a noiva, de aliança no dedo, correr para o Campo da Aviação, chamar de lindo e de meu amor para o Rei da Juventude?

Na época o pobre noivo deve ter achado que tinha sido traído e mandou tudo “pro inferno”.

Ah, daqui a pouco vou assistir, com minha mulher, um DVD do Robertão. Gravado ao vivo. Como os tempos mudam, não?


quarta-feira, 8 de abril de 2015

Tropical Hotel Santarém, de Arnaldo Paoliello. Uma "perola" na Amazônia

Ricardo Alexandre Paiva



O presente artigo tem como objetivo documentar e resgatar a memória do Tropical Hotel de Santarém, no Pará, um empreendimento da Companhia Tropical de Hotéis, subsidiária da Varig, enfatizando também a relação da empresa com a arquitetura moderna no Norte e Nordeste.

O Tropical Hotel de Santarém (1973), construído no oeste da Pará, no interior da Floresta Amazônica é um exemplo emblemático do desígnio da arquitetura moderna no processo de modernização de regiões longínquas do Brasil.

O Hotel foi projetado pelo arquiteto paulista Arnaldo Furquim Paoliello (1927), formado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, representante da geração de arquitetos modernos paulistas com forte atuação a partir da década de 1950, com formação e atuação notadamente modernas. A relevância do artigo se sustenta na necessidade de compreensão dos desdobramentos da arquitetura moderna brasileira no panorama de Integração Amazônica e modernização da Região Norte, assim como no imperativo de iluminar episódios da arquitetura moderna brasileira pouco tratados pela historiografia, tanto em relação à obra, como ao autor do projeto.

Sendo assim, pretende-se efetuar uma análise crítica do Tropical Hotel Santarém, que pode ser considerado uma pérola moderna na Amazônia, discutindo o valor da obra e do seu autor, bem como as intervenções físicas e o estado atual de conservação do edifício.

O arquiteto Arnaldo Furquim Paoliello

O Tropical Hotel Santarém foi projetado por Arnaldo Furquim Paoliello (1927), arquiteto formado na FAU Mackenzie, onde ingressou em 1946 e se graduou em 1950. A princípio, a formação era de engenheiro-arquiteto e no segundo ano, o curso passou por uma reforma, mudando o período de graduação de seis para cinco anos, convertendo-se na Faculdade de Arquitetura do Instituto Mackenzie, a primeira escola de arquitetura do Estado de São Paulo.

A turma de Paoliello contou com futuros importantes arquitetos paulistas, como Rodolpho Ortenblad Filho, Roberto Cláudio dos Santos Aflalo e Carlos Cerqueira Lemos, à época em que a FAU Mackenzie era dirigida pelo arquiteto Cristiano Stockler das Neves, um dos fundadores.

                            
                 Turma de formandos do Curso de Arquitetura da Faculdade Mackenzie de 1950.
                 Arnaldo Furquim Paoliello é 4º agachado (da esquerda para a direita)
                 Arquivo pessoal Rodolpho Ortenblad Filho [PEREIRA e GUERRA, 2011]

O Hotel Tropical Santarém: uma “pérola” moderna na Amazônia

O Tropical Hotel foi inaugurado em 1973 em Santarém, cidade considerada, historicamente, um importante entreposto comercial no oeste do Pará, nas margens da via fluvial do Rio Amazonas, no meio do caminho entre as duas principais metrópoles da Região Norte: Belém e Manaus; e localizada na confluência das águas barrentas do Amazonas e azuis cristalinas do Rio Tapajós, justificando o título da cidade como a “Pérola do Tapajós”.






O hotel constituía, à época, um importante empreendimento para a modernização da cidade, além do fato de funcionar como um dos agentes do incremento do turismo da Região Norte, pois deveria servir ao esforço do governo militar de suscitar a “Integração Amazônica” por meio da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia – Sudam. A agência deveria estabelecer estratégias geopolíticas de articulação da região à dinâmica econômica nacional, por intermédio da construção de estradas, da modernização das infraestruturas aeroportuárias e dos incentivos fiscais.

A localização estratégica de Santarém nas rotas fluviais na Amazônia e mais recentemente, nas rotas aéreas, firmando a sua centralidade em relação ao oeste do Pará, acendeu desde a década de 1970 a aspiração de emancipação do suposto Estado do Tapajós em relação ao do Pará, sendo Santarém a capital.

Segundo Paoliello, à época em que trabalhou no projeto do Hotel, havia um desejo por parte do então Ministro dos Transportes do Governo Médici, Mário Andreazza, de construir uma rodovia conectando Brasília a Santarém com o intuito de facilitar a exportação de gado do Centro-Oeste a partir do porto de Santarém. A construção do Hotel se insere, portanto, em um contexto mais amplo de modernização, conforme a citação abaixo:

“Este projeto encontra justificativa, pois a cidade Santarém que hoje possui cerca de 70.000 habitantes, sendo a maior cidade do Pará depois da Capital, e está crescendo a uma taxa demográfica de 10% ao ano, devendo com os grandes investimentos federais, estaduais e municipais que atualmente se fazem, como: o maior porto fluvial da bacia Amazônica, obras de saneamento básico, estrada Cuiabá-Santarém, usina hidroelétrica de Curuá-Una e os consequentes reflexos na área da iniciativa privada; se tornar, pala a sua estratégica situação geográfica, um grande centro exportador de riquezas da região, principalmente minerais”.

A construção do Tropical Hotel de Santarém corroborou para o projeto político-ideológico por parte do governo federal, através da “Integração Amazônica” e das elites locais, que buscavam legitimar o movimento de emancipação por intermédios de símbolos urbanos, se valendo da modernidade arquitetônica que o Hotel expressava. É importante ressaltar que estava prevista a construção de um cassino nas dependências do empreendimento, na esperança que os jogos de azar fossem liberados, constituindo assim um atrativo para turistas nacionais e internacionais, fato que não se concretizou. Para incrementar ainda mais o fluxo de turistas no hotel, a Companhia pensou em uma rota de house boats, que transitariam entre Belém, Santarém e Manaus, articulando a cadeia de hotéis nas três cidades.

No contexto urbano de Santarém, o Tropical Hotel era (e ainda é) um dos edifícios mais icônicos, status adquirido simbolicamente por representar a modernização e contribuir para criar uma nova centralidade na cidade, reforçada pela proximidade do hotel com o início da Rodovia Santarém-Cuiabá (BR-163).

Outro aspecto de inserção urbana digno de ser ressaltado se refere à previsão de construção de um Parque Municipal, que estava em fase de anteprojeto pelo arquiteto Arnaldo Paoliello à época da construção do Hotel. O “Parque Tropical” se estenderia dos jardins do Hotel até a área marginal do Rio Tapajós e possibilitaria também a conexão com um departamento náutico, uma complementação de áreas de lazer que seriam disponibilizadas aos hóspedes, com “pesca, passeios de lanchas e barcos, [...] loja para venda de souvenirs, material de artesanato local, material de pesca, esportes náuticos, bar, salas de estar e terraços em deck debruçados sobre o rio, garagem de barcos e pontão de embarque”. Entretanto, é importante salientar que nem o Parque, nem o Departamento Náutico foram realizados.
                 
                 Tropical Hotel de Santarém, implantação. Arquiteto Arnaldo Paoliello
                 Desenho original do projeto [PAOLIELLO, 1973]

O primeiro estudo concebido por Arnaldo Paoliello para o Hotel previa um programa para setenta unidades de hospedagem, estimativa feita em função da população de Santarém. Uma vez submetido ao presidente da Varig, Erick de Carvalho e ao próprio Presidente Médici, o programa de necessidades do empreendimento expandiu para 120 quartos. Destes, o General exigia a inclusão de uma suíte presidencial e a cessão de 30 unidades destinadas ao uso dos membros do governo federal. O arquiteto atendeu às demandas da Varig e do Presidente da República, embora considerasse o porte do hotel desproporcional em relação à localização e à condição urbana de Santarém no início da década de 1970.

A segunda versão do projeto foi construída em pouco mais de um ano, por operários, na sua maioria advinda de Brasília, depois da dispensa dos candangos, provocada em muitos casos pelo já avançado estágio de construção da capital federal.

A implantação é bem marcante, seja pela rampa, quase um viaduto, que dá acesso ao Hotel e abriga as funções variadas de comércio e serviços voltadas para a avenida, seja pela sua disposição, solta em meio a uma grande quadra, impondo-se em relação ao entorno, marcado por uma estrutura fundiária mais tradicional.
                                                     Tropical  Hotel de Santarém, perspectiva do conjunto. Arquiteto Arnaldo Paoliello
                 Desenho original do projeto [PAOLIELLO, 1973]

Do ponto de vista arquitetônico, o edifício se sobressai não somente pela monumentalidade da sua implantação, visível nas dimensões generosas da edificação (20 mil m²), mas também pela diversidade de usos coletivos que abrigava, qualificando-o como um edifício híbrido. O programa de necessidades era bem diverso e incluía “uma confortável suíte presidencial, conjunto de lojas, cinema, amplo salão de convenções dotado das mais modernas técnicas, piscinas, boate, salão de jogos, fisioterapia, departamento médico etc.”.

O programa se distribuía ao longo dos cinco níveis, sendo: o térreo, no plano da Av. Mendonça Furtado, dedicado aos usos coletivos, com previsão de 20 lojas abrigadas pela rampa que dá acesso ao lobby do hotel, estacionamento para 100 veículos, acesso ao cinema, setor de serviço (portaria, casa de máquinas, almoxarifados, lavanderia etc) e as redes de tubulação; em um pavimento intermediário (mezanino), localizavam-se áreas administrativas e de apoios aos funcionários e das áreas de lazer; no nível da recepção, acessado pela rampa havia estacionamento para 20 automóveis, o lobby e recepção do hotel e áreas de uso comum como bar nobre, estar, restaurante, salão de convenções para 300 pessoas e ainda uma boate com entrada para o público externo; nos três últimos andares se localizam as unidades de hospedagem. A qualidade espacial do Hotel está relacionada em grande medida à variação de níveis e pés-direitos.

A racionalidade da obra se materializa na regularidade modular dos elementos da estrutura em função das unidades habitacionais, expressa, por seu turno, na solução espacial, funcional e formal do edifício, que se desenvolve de forma levemente curvilínea e se debruça para a área de lazer do complexo, também com traços característicos do modernismo, conforme atesta o próprio arquiteto ao afirmar que o empreendimento “é de estilo moderno, formando um semicírculo voltado para o Rio Tapajós, numa concepção que visou, principalmente, a aproveitar a colina de oito metros em que se situa”.
                
                 Tropical Hotel de Santarém, planta do nível do lobby. Arquiteto Arnaldo Paoliello
                 Desenho original do projeto [PAOLIELLO, 1973]

                
                 Tropical Hotel de Santarém, planta do pavimento tipo. Arquiteto Arnaldo Paoliello
                 Desenho original do projeto [PAOLIELLO, 1973] 

Além das preocupações com o contexto da paisagem, note-se que o projeto era sensível às especificidade locais, pois:

“utilizou técnica artesanal da região, aproveitando as condições de mão-de-obra local. Dotados de todo o conforto moderno, seus 120 apartamentos têm acabamento de material simples em sua decoração foram utilizados móveis típicos da região, redes, madeiras regionais, couro, cortinas e tapetes com fibras locais”.
                
                 Tropical Hotel de Santarém, corte e detalhe do corte. Arquiteto Arnaldo Paoliello
                 Desenho original do projeto [PAOLIELLO, 1973]

Formalmente, a harmonia da curva é quebrada com o volume da circulação vertical e a marquise que protege o acesso ao hotel. Na parte posterior, voltada para o rio, destaca-se outra marquise, que funciona também como terraço, e uma grande pérgula. A linha dominante da composição é horizontal, mas é contrastada com empenas verticais que possuem um perfil ligeiramente inclinado, com uma base maior e diminuindo na medida em que se verticaliza, conforme confirma o arquiteto.

“A estrutura de concreto é totalmente modulada e se previu, através de colunas com perfis bem marcantes e cobertura de telhas meio tubo de fibro-cimento, dar uma personalidade ao conjunto, que se desenvolve de forma contínua e em diversos níveis, descortinando-se ângulos imprevistos e paisagens bastante agradáveis com interpenetração de jardins e terraços, rampas e vegetação tropical que se misturam com a arquitetura dando a ambientação que a disposição privilegiada do terreno oferece”.
                
                 Tropical Hotel de Santarém, perspectiva da área de lazer. Arquiteto Arnaldo Paoliello
                 Desenho original do projeto [PAOLIELLO, 1973]

É importante destacar a qualidade dos profissionais envolvidos no projeto, como o arquiteto Hideo Hashimoto, coordenador e colaborador do projeto de arquitetura; o paisagista Ney Dutra Ururahy, com forte influência de Burle Marx, conforme pode ser verificado no desenho geométrico dos jardins do Tropical Hotel de Santarém; O engenheiro Adolfo Veirano Jr., responsável pelo cálculo estrutural; a Sra. Graziella Pires Paoliello, esposa do arquiteto, que juntamente com Sra. Myriam Pettinati Mauad e Arnaldo Paoliello foram responsáveis pela arquitetura de interiores e decoração.
                
                 Tropical Hotel de Santarém, perspectiva do lobby. Arquiteto Arnaldo Paoliello
                 Desenho original do projeto [PAOLIELLO, 1973] 

Interferências na obra: à guisa de conclusão

Com base na pesquisa (em estágio inicial) empreendida pelo autor sobre a relação entre a arquitetura moderna e o turismo, o trabalho buscou registrar aspectos gerais de projetos de hotéis modernos no Norte e Nordeste da Rede Tropical de Hotéis-Varig e especificamente o caso do Tropical Hotel de Santarém, onde se constata que até então não existiam referências sobre este importante edifício, nem mesmo da atuação e contribuição do arquiteto paulista Arnaldo Furquim Paoliello à arquitetura hoteleira de feição modernista. A relevância do trabalho se sustenta na possibilidade de chamar a atenção para a necessidade de documentação e preservação desta “pérola” moderna na Amazônia, como forma de valorização do criador (arquiteto) e da criatura(obra).

Atualmente, o edifício ainda funciona como hotel, depois de um tempo sem uso, em função do processo de desarticulação e falência da Companhia Tropical e da Varig. Após negociações, o hotel foi adquirido pelo Sr. Paulo Barrudada na década de 2000, justificando a sua atual denominação de Barrudada Tropical Hotel.

O atual hotel passou por reformas internas, com mudanças de revestimentos em geral e nos banheiros e atualização de mobiliário dos quartos e demais ambientes, que não comprometeram a aparência original do projeto. Mais recentemente, a construção de uma coberta metálica em forma abobadada sobre o terraço que se debruça para o jardim pode ser considerada a intervenção mais nociva e desrespeitosa em relação à linguagem moderna do edifício.

         
                  Atual Barrudada Tropical Hotel, área de lazer, Santarém-PA
De modo geral, a manutenção atual do uso hoteleiro garante ao edifício uma certa longevidade, e adaptação às demandas contemporâneas, que se justificam pela qualidade do projeto. Em relação aos usos coletivos previstos, como as lojas e outros serviços, verifica-se que não houve uma ocupação conforme foi concebido. Caso se consolidasse, poderia valorizar sobremaneira o espaço público da avenida na qual está implantado.

Ainda que estas interferências no edifício e desdobramentos contrários ao projeto tenham ocorrido, o Hotel continua sendo um dos edifícios mais significativos da cidade de Santarém, que depois de quarenta anos passados desde a construção do Hotel, sofreu transformações urbanas relevantes, embora permaneça o desejo de criação do Estado do Tapajós.
         
                  Atual Barrudada Tropical Hotel, vista aérea, Santarém-PA
Enfim, a carência de estudos sistemáticos sobre esta temática demonstra a importância da pesquisa sobre o Tropical Hotel de Santarém e do seu autor, pois pretende, mediante a documentação deste acervo, contribuir para a sua valorização, conservação e preservação. O trabalho, ao registrar este legado, almeja ainda colaborar para a produção de conhecimento sobre a cidade e a arquitetura no Norte e Nordeste do Brasil.

domingo, 5 de abril de 2015

Navio "Presidente Vargas"


Navio de passageiros de bandeira brasileira, que fez parte da famosa Frota Branca, outrora tão apreciada dos paraenses. O "Presidente Vargas" pertenceu à ENASA - Empresa de Navegação da Amazónia S.A. (ex-SNAPP) e ligava (transportando passageiros e carga) alguns portos da vasta bacia hidrográfica do Amazonas. Este pequeno paquete de vocação fluvial foi construído em 1953 num estaleiro dos Países Baixos (Haarlemsche Scheepswerven Maatschappi) e era a maior e mais elegante unidade da tal Frota Branca, que compreendia, igualmente, os navios "Lopo d’Almada", "Augusto Montenegro", "Leopoldo Peres" e "Lauro Sodré", todos eles construídos na Holanda. O "Presidente Vargas" apresentava 1 515 toneladas de arqueação bruta, media 80,20 metros de comprimento por 11,30 metros de boca e podia atingir graças às suas 2 máquinas diesel a velocidade de 17 nós. Com uma capacidade (oficial) para 500 passageiros distribuídos por três classes distintas o "Vargas" era tido como muito confortável pelos seus usuários, que apreciavam, para além do conchego das suas acomodações, o seu sistema de ar condicionado e o ambiente social criado pelos passageiros que o frequentavam amiúde, ou episodicamente, nas suas viagens de lazer ou de negócios. Depois de 18 anos de bons serviços prestados às populações do Pará (mas não só), o "Presidente Vargas" afundou-se, surpreendentemente, por volta das 21 horas do dia 4 de Junho de 1972, pouco depois de ter largado amarras do cais de Soure, uma localidade da ilha do Marajó banhada pelas águas do rio Paracauary. Porto onde o "Vargas" havia desembarcado toda a sua lotação de passageiros. No naufrágio do prestigioso navio da ENASA não houve vítimas mortais. As causas do seu naufrágio nunca foram esclarecidas, o que deu azo a rumores de afundamento premeditado por obscuras razões. Ainda foram feitos alguns estudos e tentativas para reemergir e recuperar o "Presidente Vargas", nomeadamente um apresentado por peritos vindos dos Estados Unidos. Mas o que é facto, é que o elegante navio amazónico ainda hoje jaz no fundo lamacento do Paracauary…


sexta-feira, 3 de abril de 2015

Navio "Lobo D'Almada"


Navio "Lobo D'Almada", um dos integrantes da "Frota Branca" da extinta ENASA, juntamente com os outros navios: Augusto Montenegro, Leopoldo Peres, Lauro Sodré e Presidente Vargas que foram construidos nos estaleiros da Holanda, na década de 50. Exceto o Presidente Vargas que tinha um formato diferente, os outros quatro navios eram semelhantes. Convém lembrar que o Presidente Vargas navegava para Marajó-Soure, parando em Mosqueiro e os demais viajavam para o Baixo Tocantins e Baixo Amazonas até Manaus, atendendo ainda a linha de Iquitos no Peru e do Madeira até Porto Velho.

Infelizmente, nenhum desses navios não mais existem. Como se sabe, o Presidente Vargas afundou em Soure. O Leopoldo Peres, afundou no estreito de Breves. O Augusto Montenegro, teria se acabado num dos estaleiros próximo a Val de Cans, em virtude de uma disputa judicial. Aliás, será que se acabou mesmo ou está com alguma empresa? E o Lobo d'Almada e o Lauro Sodré, onde estariam? M i s t é r i o ! Mas se você souber, diga-nos onde estão.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Antigo Trapiche Municipal de Santarém


Navio da extinta ENASA, atracado no antigo Trapiche Municipal de Santarém, década de 60.
Os navios da extinta ENASA, mais conhecidos como Frota Branca, era constituída dos seguintes navios: Lobo D’Almada, Augusto Montenegro, Leopoldo Perez, Lauro Sodré e Presidente Vargas, sendo este último, com formato diferente dos outros. Todos eles construídos em Amsterdam na Holanda. Tinham capacidade para transportar 500 passageiros, na classe popular e na classe especial.
Foram eles os melhores que já passaram pela Amazônia.