A Arqueologia na Região de Santarém
A região de Santarém possui uma longa história de ocupação. A Arqueologia tem contribuído para o conhecimento sobre o modo de vida de antigas populações indígenas que habitaram esta área. Em Taperinha, sítio localizado a cerca de 70 km a leste de Santarém, foi descoberta, pela arqueóloga Anna Roosevelt, a cerâmica mais antiga da América, fabricada há 7.000 anos atrás por grupos de pescadores e coletores de moluscos. Ainda no município de Santarém, pesquisas arqueológicas recentes, conduzidas pela arqueóloga Denise Gomes, identificaram na atual comunidade do Parauá os primeiros plantadores de mandioca da região, há pelo menos 3.000 anos atrás. Estas populações também produziam cerâmica e além da caça e pesca consumiam frutos de palmeiras, a exemplo do buriti e da pupunha. Viviam em pequenas aldeias à beira do rio Tapajós e na terra firme, nas proximidades do Lago do Jacaré, em casas de formato ovalado. Em períodos mais tardios, há cerca de 1.000 anos, cerimônias de iniciação feminina parecem ter tido grande importância. Nestas ocasiões a comunidade se reunia para comemorar a transição da infância para a adolescência das jovens, sendo que muita bebida de mandioca fermentada (tarubá) era consumida. Outros rituais que agregavam a comunidade estavam relacionados ao enterro dos mortos, que eram cremados, depositados numa vasilha cerâmica, envolta em folhas de palmeiras e depois enterrados.
Figura 1 - Escavação da unidade 1, sítio Lago do Jacaré. Comunidade do Parauá, Santarém, PA. Foto: Denise Maria Cavalcante Gomes.
Mas desde o século XIX Santarém é conhecida internacionalmente pela cerâmica bastante elaborada, produzida pelos Tapajó, grupo pré-histórico que habitava a região na época da chegada dos primeiros Portugueses. Os vasos de cariátides, os de gargalo e as estatuetas humanas, que desde então encantaram o mundo, estão presentes em museus no Brasil, Estados Unidos e Europa, assim como no Centro Cultural João Fona, em Santarém. Muitos estudos de coleções museológicas demonstraram a origem local desta cerâmica e além disso o realismo na representação de animais da floresta, das crenças sobrenaturais, dos seres míticos meio homem meio bicho, das mulheres e dos pajés que parecem ter sido tão importantes para esta sociedade.
Figura 4- Vaso de gargalo,cultura Santarém. Acervo MAE-USP.(Gomes,2002: Cerâmica Arqueológica da Amazônia, Edusp). Foto: Cláudio Wakanara.
Os Tapajó
Os cronistas registraram algumas impressões sobre o modo de vida dos Tapajó, que embora muitas vezes pareçam referências vagas, consistem nas únicas informações históricas disponíveis. No século XVII Acuna relata que os Tapajó eram guerreiros muito numerosos e temidos por seus vizinhos, devido à utilização de flechas envenenadas. Já Heriarte, outro cronista da mesma época, indica que o principal sítio ocupado por este grupo era Santarém, sendo que aí viviam muitos índios, em situação de muita fartura, e se realizavam cerimônias com a adoração de ídolos e danças com o consumo de bebidas. Ainda sobre os rituais dos Tapajó, sabemos que eles consumiam as cinzas dos mortos, misturadas à bebida. Mas o que chamou a atenção dos arqueólogos foi a descrição sobre a forma de governo dos Tapajó, com chefes de aldeias, que por sua vez eram chefiadas por um chefe maior.
Esta informação foi vista como um indicador da existência de cacicados, um tipo de governo complexo, registrado em sociedades nos Andes, no Caribe, na Mesoamérica e até mesmo na Polinésia. Outros cronistas de fins do século XVII e início do XVIII foram os missionários que vieram estabelecer a igreja católica no rio Amazonas. Geralmente mais voltados para a observação dos costumes e cerimónias religiosas indígenas, vistos como pecaminosos, os missionários também reforçaram a ideia de hierarquia social, inclusive com relatos sobre a adoração de chefes e antepassados de grande importância que depois de mortos eram mumificados.
Figura 5-Vaso de Cariátides, cultura Santarém. Acervo MAE-USP (Gomes 2002- Cerâmica Arqueológica daAmazônia, Edusp). Foto: Cláudio Wakahara.
A partir dessas informações históricas e de dados fornecidos por Curt Nimuendajú - um antropólogo que fez os primeiros levantamentos de sítios arqueológicos na região entre os anos de 1923 a 1926 - os arqueólogos começaram a interpretar Santarém como um exemplo de sociedade pré-histórica bastante desenvolvida, com a existência de grandes aldeias, de chefes poderosos, que dominava outras populações e estabelecia contatos comerciais com locais distantes. Esta hipótese vem sendo testada atualmente por meio de trabalhos arqueológicos que buscam encontrar evidências, ou provas materiais, que confirmem as questões levantadas sobre o tipo de governo dos Tapajó, seus rituais e suas formas de subsistência. Um exemplo destes trabalhos são as escavações atualmente realizadas pela arqueóloga Anna Roosevelt na área do porto da cidade de Santarém, que indicaram uma ocupação tardia, entre os séculos XIII e XIV, associada à cerâmica clássica Santarém.
A partir dessas informações históricas e de dados fornecidos por Curt Nimuendajú - um antropólogo que fez os primeiros levantamentos de sítios arqueológicos na região entre os anos de 1923 a 1926 - os arqueólogos começaram a interpretar Santarém como um exemplo de sociedade pré-histórica bastante desenvolvida, com a existência de grandes aldeias, de chefes poderosos, que dominava outras populações e estabelecia contatos comerciais com locais distantes. Esta hipótese vem sendo testada atualmente por meio de trabalhos arqueológicos que buscam encontrar evidências, ou provas materiais, que confirmem as questões levantadas sobre o tipo de governo dos Tapajó, seus rituais e suas formas de subsistência. Um exemplo destes trabalhos são as escavações atualmente realizadas pela arqueóloga Anna Roosevelt na área do porto da cidade de Santarém, que indicaram uma ocupação tardia, entre os séculos XIII e XIV, associada à cerâmica clássica Santarém.
Figura 6 - Estatueta de um pajé. Cultura Santarém (Acervo MAE-USP). Foto: Cláudio Wakahara.
A Preservação dos Sítios Arqueológicos
O conhecimento da antiga sociedade Santarém interessa tanto à população local, como à comunidade científica como um todo. Mas ainda há muito a ser estudado. Várias questões ainda permanecem em aberto e talvez nunca sejam completamente esclarecidas, uma vez que dependem de contextos de escavação preservados. Algumas pessoas pensam que os arqueólogos trabalham somente com peças cerâmicas escavadas. Entretanto, a atividade dos arqueólogos é bem mais ampla, pois se interessam em recuperar a forma das antigas aldeias, a distribuição das casas, áreas de atividades específicas, restos alimentares, além de aspectos da organização social e política que só podem ser inferidos a partir de uma teia de relações estabelecidas entre os objetos, as características do solo, o ambiente e os outros sítios do entorno. Sem isto não é possível construir uma interpretação arqueológica.
Figuras 7 e 8 Estatuetas masculinas em posição reclinada, representando criaturas humanas com algumas características de animais, cultura Santarém. Acervo União Federal. Foto: Bruno Cimino Ferreira Netto.
Portanto, é importante destacar a importância da preservação dos sítios arqueológicos da região de Santarém. Existe um patrimônio arqueológico na cidade de Santarém e nas comunidades do rio Tapajós que vem sendo destruído, com trabalhos de terraplanagem em áreas de sítios arqueológicos, a coleta indevida de material arqueológico por leigos e escavações clandestinas, visando comércio ilegal de peças arqueológicas. É bom lembrar que os bens arqueológicos são propriedade da União, sendo gerenciados pelo IPHAN, e o comércio de peças arqueológicas constitui crime previsto por lei, conforme os artigos 3 e 5 da Lei 3924 de 26 de julho de 1 961, que dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos. A comunidade em geral deve ser alertada para este problema. A solução depende não só dos pesquisadores, das autoridades e dos órgãos federais, mas da participação dos cidadãos em geral, pois o conhecimento da história local é um direito de todos. Neste sentido, os professores, alunos e as instituições de ensino são a porta de entrada para a formação de uma consciência que ressalte a importância de preservar os sítios arqueológicos e valorizar os bens culturais da região. Estes não só possuem qualidades estéticas, como as da antiga cerâmica fabricada pelos Tapajó, que documentam a existência de instituições sociais, das formas de conceber o mundo e de se relacionar com esferas sobrenaturais, mas também constituem o testemunho de sociedades há muito desaparecidas na Amazônia, das quais devemos nos orgulhar.
Para contatos com o IPHAN no Estado do Pará procurar:
2ª Superintendência Regional do IPHAN Av.GovernadorJoséMalcher n. 563 Nazaré 66035 100 Belém PA Fones: (91) 3224 1 825/ 3224 0699
Texto: Denise Maria Cavalcante Gomes.
A Preservação dos Sítios Arqueológicos
O conhecimento da antiga sociedade Santarém interessa tanto à população local, como à comunidade científica como um todo. Mas ainda há muito a ser estudado. Várias questões ainda permanecem em aberto e talvez nunca sejam completamente esclarecidas, uma vez que dependem de contextos de escavação preservados. Algumas pessoas pensam que os arqueólogos trabalham somente com peças cerâmicas escavadas. Entretanto, a atividade dos arqueólogos é bem mais ampla, pois se interessam em recuperar a forma das antigas aldeias, a distribuição das casas, áreas de atividades específicas, restos alimentares, além de aspectos da organização social e política que só podem ser inferidos a partir de uma teia de relações estabelecidas entre os objetos, as características do solo, o ambiente e os outros sítios do entorno. Sem isto não é possível construir uma interpretação arqueológica.
Portanto, é importante destacar a importância da preservação dos sítios arqueológicos da região de Santarém. Existe um patrimônio arqueológico na cidade de Santarém e nas comunidades do rio Tapajós que vem sendo destruído, com trabalhos de terraplanagem em áreas de sítios arqueológicos, a coleta indevida de material arqueológico por leigos e escavações clandestinas, visando comércio ilegal de peças arqueológicas. É bom lembrar que os bens arqueológicos são propriedade da União, sendo gerenciados pelo IPHAN, e o comércio de peças arqueológicas constitui crime previsto por lei, conforme os artigos 3 e 5 da Lei 3924 de 26 de julho de 1 961, que dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos. A comunidade em geral deve ser alertada para este problema. A solução depende não só dos pesquisadores, das autoridades e dos órgãos federais, mas da participação dos cidadãos em geral, pois o conhecimento da história local é um direito de todos. Neste sentido, os professores, alunos e as instituições de ensino são a porta de entrada para a formação de uma consciência que ressalte a importância de preservar os sítios arqueológicos e valorizar os bens culturais da região. Estes não só possuem qualidades estéticas, como as da antiga cerâmica fabricada pelos Tapajó, que documentam a existência de instituições sociais, das formas de conceber o mundo e de se relacionar com esferas sobrenaturais, mas também constituem o testemunho de sociedades há muito desaparecidas na Amazônia, das quais devemos nos orgulhar.
Para contatos com o IPHAN no Estado do Pará procurar:
2ª Superintendência Regional do IPHAN Av.GovernadorJoséMalcher n. 563 Nazaré 66035 100 Belém PA Fones: (91) 3224 1 825/ 3224 0699
Texto: Denise Maria Cavalcante Gomes.
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