Mais uma vez os católicos santarenos saem às ruas para homenagear sua padroeira, Nossa Senhora da Conceição. Mais um Círio, mais uma Festa... E se renovam nos corações a esperança, a fé e o amor fraterno.
O Círio de Nossa Senhora da Conceição nem é tão antigo assim (a Festa, entretanto o é). Iniciado em 1919, por iniciativa do Clero local, em substituição ao "Círio da Bandeira" (que era organizado pelas confrarias locais), o Círio de Nossa Senhora da Conceição foi mais uma iniciativa que, como dizemos "caiu no gosto do povo".
A caminhada já foi bem menor... No início era somente no que chamaríamos de "Cidade Velha". Os que saíam da Igreja de São Sebastião iam pela Rui Barbosa, desciam pela Travessa 15 de Novembro (ou Francisco Corrêa), pegavam a Floriano Peixoto em direção à Praça Rodrigues dos Santos, onde fazia a curva em direção à Catedral (pela Siqueira Campos). Esses são os nomes atuais das ruas que antes tinham outros nomes e não tinham asfalto nem concreto, indo o povo pelo chão de terra.
Mas não foi somente da Igreja de São Sebastião de onde saíram os primeiros Círios... Ainda na década de 1920, pelo menos por três vezes, o Círio saiu da Igreja de São Raimundo Nonato, no bairro da Aldeia, e não da igreja atual, mas da antiga construção, que remonta ao século XIX, onde o Padre João Fernandes celebrava suas missas para os índios que ainda moravam em Santarém...
E a cidade foi crescendo, o número de habitantes aumentou, e o Círio foi se modificando... O trajeto foi sendo alterado conforme a cidade crescia, as homenagens também, algumas até nem existem mais. Podemos citar o "Carro dos Anjos" (que em determinado momento já levava mais adultos do que anjinhos propriamente dito), a "Cavalaria" (que apesar da beleza tinha o inconveniente da "sujeira" produzida pelos cavalos em meio à multidão), o "Carro de Foguetes" (que por motivos de segurança foi retirado do meio da procissão) entre outras coisas..
Para ilustrar, passo a relatar o que o "Programa da Festa" do ano de 1926 nos dizia sobre a organização do Círio daqueles tempos: "A ordem desse extraordinário cortejo é a seguinte: à frente, abrindo-o, o Carro dos Foguetes. Logo após formarão ala os meninos das escolas do catecismo, seguido da Congregação dos Marianos, Associações Aloysianos e Vicentinos. Virá em seguida a "Sinfonia Franciscana". Em continuação irão as alunas do Orfanato Santa Clara, as Filhas de Maria com o seu estandarte, seguidas das Irmãs Clarissas. No centro irá a grande legião de Anjos, depois da qual formarão ala a Pia União de Santo Antonio com o seu estandarte, a confraria do Santo Rosário e o Apostolado da Oração com o seu estandarte. Em seguida irá o ANDOR com a imagem da Excelsa Rainha do Céu, Nossa Senhora da Conceição, que do alto do seu trono abençoará o povo santarense. Devido ordem superior eclesiástica, FOI SUPRIMIDA A BERLINDA E A CORDA DE QUE SE COMPUNHA ESTE PRÉSTITO (o grifo é meu). Seguidamente irá a banda de música do professor Raimundo Fona, indo depois a grande massa popular". Olhando para o texto acima, quanta coisa já não mudou no nosso Círio?
O Círio ficou sem berlinda e corda até o início da Década de 1970, quando o nosso querido "Machadinho" reintroduziu estes símbolos na procissão. As imagens e as berlindas, também já mudaram várias vezes. Hoje, algumas mudanças ainda vão acontecendo e acréscimos ainda estão sendo feitos. Tudo para que o antigo permaneça e o novo ocupe seu lugar nas tradições...
E o Círio hoje está aí, às nossas ruas, às nossas portas... Sobrevivendo, mesmo com todas as mudanças, pois as tradições até podem mudar ou se adaptar aos novos tempos. Somente uma coisa não mudou nestes anos todos: a fé do povo Santareno, que neste período se irmana, se reúne e celebra a Festa de sua padroeira, o Natal antecipado da foz do Tapajós...
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